As transformações impostas pela pandemia do coronavírus um dia serão detalhadas pelos livros de História. Por enquanto, restam aos atores do nosso tempo uma capacidade ímpar de análise de conjuntura e tendências, com uma boa dose de intuição para entender a essência de um novo mundo.

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No ambiente corporativo e na cultura empreendedora, 2022 é um ano ao mesmo tempo aguardado e temido. Novos posicionamentos? Novas estratégias? Oportunidade de recuperação de perdas? Ano de observação e cautela excessiva?

Não há como ser pessimista após a sensação de que a pior tragédia sanitária em um século está ficando para trás. O mercado tenta conter a euforia ao mesmo tempo que se preocupa com a gangorra dos negócios. Quem sobe? Quem desce?

Segundo um levantamento recente do SEBRAE, no primeiro semestre de 2021 houve um aumento recorde de abertura de micro e pequenas empresas no país.

Esse percentual é considerado o maior desde 2015. Somente nos seis primeiros meses foram cerca de 2,1 milhões de novos negócios, um crescimento de 35% em comparação ao mesmo período em 2020.

Além de um nova geração de empresários, reflexo da aceleração das mudanças que a pandemia provocou, as percepções sobre o comportamento humano podem pautar novos negócios.

Os participantes do Rodadas de Conteúdo Folha ofereceram pontos de vista sobre o que vem pela frente. Para Lucas Vieira de Araujo, mediador dessa última edição das Rodadas de Conteúdo FOLHA, o próximo ano deve reservar boas surpresas no que diz respeito ao empreendedorismo, seja ele tradicional ou com base tecnológica.

“O ano de 2022 será um bom ano para o empreendedorismo. Esperamos um maior investimento nas startups, mas ainda assim, devemos ter um cenário melhor para novos negócios, com a economia tentando retomar aqueles números que vimos em 2019”, diz. Araujo também é professor do Departamento de Comunicação da UEL e PhD em Comunicação e Inovação.

Na opinião do especialista, a inovação também traz a necessidade de mudança nos processos mentais, despertando o espírito empreendedor dos colaboradores. “Estimular o pensamento empreendedor na equipe, e isso é bem diferente de simplesmente acatar uma ordem de um superior”, diz.

Outro ponto de atenção, na opinião do colunista da FOLHA, está na crescente preocupação com as práticas de ESG (Environmental, Social and Governance), um compromisso das empresas com a sociedade onde atuam.

“São critérios que tendem a se fortalecerem no ano de 2022. Precisamos ampliar o debate sobre essas melhorias, do fomento e benefícios para todos os grupos da sociedade, reafirmando a importância deles para o desenvolvimento das empresas, instituições e da própria sociedade”, completa Araujo.

João Américo Barboza, fundador da startup DIOXD acredita que o ano de 2022 será marcado pela recuperação do mercado. “Estamos vindo de uma recessão de pelo menos 18 meses por causa da pandemia e mesmo que 2022 seja um ano eleitoral, visualizo um ano melhor”, afirma.

Para o empresário, o brasileiro é um empreendedor por natureza, com uma veia que pulsa forte para o tema, no entanto, o maior desafio é exatamente o perfil do brasileiro. “Se por um lado temos esse de empreendedor nato, temos de outro, o improviso, com esses novos empreendedores esquecendo da importância do planejamento”, diz.

Para ele, o plano de negócios é essencial. “Um plano bem estruturado, é preciso entender o público alvo, o cenário que você está trabalhando e principalmente, é necessária uma organização financeira muito boa. Isso demanda tempo, mas é determinante para o sucesso do desenvolvimento do empreendimento”, comenta.

No campo do agronegócio, Barboza vislumbra um 2022 muito bom, com indicativos positivos para safras recordes, sempre com o apoio da tecnologia.

A consultora de negócios do Sebrae, Liciana Pedroso, lembra que mais do que nunca é preciso aplicar uma antiga lição. “Os empreendedores de qualquer porte devem entender que o planejamento é fundamental. Para isso é preciso entender em qual universo seu negócio está inserido, analisar dados, com ferramentas tecnológicas ou apenas com a percepção correta do comportamento do cliente. E se adaptar a esta nova realidade, tornando seu negócio mais flexível”.

O diretor de Operações da Pado, Nathan Bampi, lembra que 2022 pode sentir os efeitos da regulamentação da Lei das Startups, marco legal aprovado no passado e que pode facilitar a viabilização de projetos ligados à inovação aberta. “Estamos inseridos no projeto de uma aceleradora com outras empresas e queremos avançar nas negociações para viabilizá-las nos próximos anos”, revela.

Inovação serve como motor para a retomada da economia

A última edição das Rodada de Conteúdos trouxe a oportunidade de projetar as perspectivas do empreendedorismo para 2022. O clima é de otimismo, principalmente com a pandemia sob controle e os esforços de retomada do crescimento econômico.

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A inovação, fio condutor dos seis eventos, também deve ser a protagonista no ano novo, na tentativa de atender as mudanças no mercado e as necessidades das empresas em recuperação depois de um período de crise, que ainda não acabou. O colunista de inovação e empreendedorismo da FOLHA, Lucas Vieira de Araujo foi o mediador do encontro e afirma que para quem está pensando em se aventurar em um novo negócio, a tecnologia pode ser a chave do sucesso mesmo que o empreendimento seja tradicional. “Com a inovação, as chances de desenvolvimento aumentam”, diz. Araujo.

Existe uma diferença entre o empreendedorismo tradicional, “de raiz” e aquele contemporâneo, muito ligados às empresas com base tecnológica.

O primeiro, geralmente, não tem uma conexão muito forte com a inovação coisa bem diferente quando o assunto é startups. “Nessas empresas, o desenvolvimento de novas tecnologias representa o core business da organização, isso faz parte da sua natureza essencial. No empreendedorismo você pode ter, ou não, a inovação, mas quando o empreendedorismo tradicional encontra na inovação uma aliada, as chances de sucesso são maiores”, afirma. A inovação vem para suprir lacunas na base e no mercado.

Na opinião de Araujo, o período marcado pela pandemia promoveu o crescimento orgânico das startups. “Os fundos de investimento aumentaram os aportes, o volume de recursos cresceu, tivemos o desenvolvimento de startups unicórnio com inclusive a participação de tecnologia desenvolvida em Londrina”, conta.

As notícias devem ser boas também para o empreendedorismo tradicional. “A expectativa de uma retomada da atividade econômica e a pandemia enfraquecida permite isso. Serão novos negócios e isso significa mais empregos e desenvolvimento”, diz. “Serão números mais positivos mesmo com a consciência de que o período ainda é difícil”, completa.

Tecnolgia sim, mas sem deixar de lado o compromisso com a sociedade. Para o especialista, o ano de 2022 também deve ser marcado pelo fortalecimento das práticas de ESG (Environmental, Social and Governance), ou seja, o compromisso com responsabilidade social, transparência e governança. “As políticas de gestão e ética tendem a se fortalecerem no próximo ano. São uma necessidade para as empresas que precisam aderir e acreditar nessas transformações”, comenta.

Para Araujo, é preciso ampliar o debate em torno às mudanças, estimulando melhorias que deverão ser implementadas não apenas nas empresas, mas também nas instituições e no setor publico. “A sociedade cobra e exige, cada vez mais, um posicionamento muito firme das empresas e das organizações sobre o benefício das próprias atuações delas para todos os grupos da sociedade. Precisamos fomentar mais o empreendedorismo feminino e aqueles grupos ligados a pessoas que historicamente não tiveram tantas oportunidades; fortalecendo esses critérios e reafirmando a importância deles para o desenvolvimento das empresas, organizações e da sociedade”, diz. (J.A.)

Pensar diferente garante cultura empreendedora nas grandes empresas

“Com um pouco de disciplina, qualquer líder ou organização é capaz de inspirar, tanto dentro quanto fora de sua instituição, ajudando a promover suas ideias e sua visão. (...) O objetivo deste livro não é simplesmente tentar corrigir o que não está funcionando. Escrevi "Comece pelo porquê" como um guia para enfatizar e ampliar aquilo que funciona. Não pretendo contestar as soluções oferecidas por outras pessoas. A maioria das respostas que obtemos, quando baseadas em evidências concretas, são perfeitamente válidas. No entanto, se começarmos com as perguntas erradas, se não compreendermos a causa, então até as respostas certas acabarão nos levando na direção errada… cedo ou tarde. A verdade sempre é revelada”.

Os ensinamentos são do best-seller “Comece pelo porquê - Como grandes líderes inspiram pessoas e equipes a agir”, do escritor inglês radicado nos Estados Unidos, Simon Sinek.

O livro foi o ponto de partida para uma nova era na Pado, empresa líder nacional de cadeados e fechaduras, que hoje prefere ser apresentada como uma provedora de soluções em segurança residencial e comercial.

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De acordo com Nathan Bampi, diretor de Operações da empresa, instalada há 24 anos na Grande Londrina, no município de Cambé, a leitura foi feita simultaneamente pelos gestores e colaboradores. Surgia ali a chamada gestão de mudança. “Foi uma lição sobre reconhecer o próprio propósito e o propósito da empresa”, lembra.

EMPODERAMENTO

A Pado se tornou um exemplo de como a cultura empreendedora pode extrapolar o lugar comum de fundar uma empresa. “Empoderamos setores estratégicos responsáveis pela pesquisa, inovação, compatibilização de tecnologias e desenvolvimento de novas tecnologias”, conta o executivo. “E demos muita liberdade a eles. Eliminamos o medo de errar. Se houvesse erro, que fosse rapidamente identificado e levado ao âmbito dos tomadores de decisão. E aí decidíamos: se insistíamos naquele caminho ou modificaríamos algo”, explica.

“Também era importante que todos entendessem que a intensidade da mudança deve ser mantido e se tornar contínuo. E foi aí que tivemos um fato concreto que ajudou a empresa a compreender o que significava esta mudança”, prossegue Bampi.

Ele se refere ao desenvolvimento da primeira fechadura eletrônica de tecnologia brasileira, produto que o executivo considera o mais importante da história recente da companhia.

Segundo ele, a apresentação do protótipo à diretoria foi um grande momento desta nova fase, dada a surpresa e a satisfação que os diretores tiveram ao ver todos os detalhes do novo produto. “Os desenvolvedores foram aplaudidos em pé”.

AUTONOMIA

Para Bampi, a liberdade de autonomia de um grupo de trabalho multidisciplinar responsável pelo projeto (chamado na mundo corporativo de squad) foi a chave para o sucesso. “É um caso que tem potencial de ser um multiplicador dentro da empresa porque mostra que pensar diferente pode impactar significativamente os resultados”, afirma.

As novas gerações que têm a missão de manter esta veia empreendedora no cotidiano da Pado são preparadas em duas escolas, a Escola de Fábrica e a Escola de Tecnologia. “Os jovens são fundamentais para pensar os nossos produtos a médio e longo prazo mas, claro, fazemos isso com equilíbrio. Precisamos de colaboradores experientes e outros que façam a ponte entre estas gerações”, explica. (L.F.M.)

Empreendedorismo no campo é tecnológico

João Américo Barboza é londrinense e fundador da startup DIOXD que oferece um tratamento de sementes com dióxido de carbono para aumentar da produção agrícola de forma sustentável, trouxe para a Rodadas de Conteúdo o case de sucesso da empresa, hoje presente em várias regiões do Brasil e em dois países.

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O projeto começou a ser gestado quando Barboza tinha apenas treze anos de idade e frequentava as feiras de ciências. Aos 18 anos fundou a DIOXD e entrou no programa de aceleração Go SRP, da Sociedade Rural do Paraná, depois passou a fazer parte de programas de aceleradoras recebendo um bom aporte de investimento e no ano passado, mais uma oportunidade de doze meses de aceleração em Luís Eduardo Magalhães, no leste da Bahia, uma nova fronteira agrícola em franca expansão. Essa é a casa do empresário há quase dois anos.

Com apenas 21 anos, Barboza é um “prodígio” entre os empreendedores das agrotechs. “A pesquisa ia de encontro a uma necessidade do mercado na manutenção da qualidade da semente e aumento da produtividade com um viés de sustentabilidade. Pegamos toda a pesquisa desenvolvida e colocamos em um plano de negócios, eliminado a distância entre esses dois mundos, o da academia e do empreendedorismo. Na verdade, a diferença entre dois é apenas um plano de negócios. E foi isso o que fizemos para que aquela pesquisa fosse entregue ao mercado, às grandes cooperativas e grandes sementeiras”, conta. “Quando falamos em startups, quase sempre estamos falando de uma solução simples, uma ideia disruptiva que atende o mercado através de uma inovação”, revela.

Fruto do Ecossistema Inovação Agro de Londrina, Barboza afirma que estar rodeado de pessoas e instituições fez toda a diferença na hora de montar os processos de gestão e nas tomadas de decisão. “Quando eu montei a DIOXD com 18 anos de idade, no primeiro ano de Agronomia, tive o suporte de todo o ecossistema o que me garantiu mais tranquilidade e preparo. Não é porque temos uma startup que levamos menos a sério o empreendedorismo. Eu, como empreendedor de 21 anos, tenho no meu time de sócios e colaboradores pessoas com mais experiência. O empreendedor tem que entender que ele não sabe tudo, ele também tem que estar disposto a aprender com pessoas que já vivenciaram isso, que possuem mais experiência, que aprenderam com os próprios erros e erros dos outros. A atualização é constante”, diz.

A troca entre as gerações, na opinião do empresário, entra em um novo estilo de empreender mais inovador e que representa um momento de disrupção. Na DIOXD, cargos de direção são exercidos por pessoas com mais experiência. Na linha de frente, na parte comercial, de assistência de campo, pós-venda, qualidade de atendimento e relacionamento com os produtores estão os mais jovens. “Estabelecemos uma relação de peças diferentes que se encaixam perfeitamente”, comenta.

Barboza espera um ano ainda melhor, principalmente para o agronegócio. “A perspectiva de crescimento é muito boa. Tivemos uma linha de crédito liberada pelo Governo Federal que é a maior dos últimos anos. O clima tem ajudado no desenvolvimento da cultura da soja nas diversas regiões do país, com a antecipação de plantio e tudo mais. Ainda assim, é importante ressaltar que é praticamente impossível conseguir esses resultados sem a tecnologia. O agro é a locomotiva do Brasil e hoje, a tecnologia é base para o sucesso do desenvolvimento do agronegócio brasileiro, para que ele continue nesse crescendo de safras recordes e manejos de alta qualidade”, afirma.

O empresário avalia que a realização das Rodadas de Conteúdo pelo Grupo Folha também representa uma inovação tecnológica. “Vínhamos dentro de um padrão de consumo de informação e na pandemia, podemos observar diversas iniciativas acontecendo, como as lives e outros formatos. Essa é uma disrupção na forma de levar conhecimento para o público e em como comunicar isso. Nesse encontro, temos perfis diferentes debatendo um mesmo assunto e isso agrega valor para quem está participando, é uma disruptura tecnológica no campo da informação, trazendo o conhecimento, compartilhando e agregando valor”, comenta. (J.A.)

Quatro assuntos fundamentais para os empreendedores em 2022

O portal do Sebrae publicou este mês uma espécie de guia para ajudar os empreendedores a sobreviver no mercado no ano que vem, um período que, tudo indica, vai ser completamente livre das restrições sanitárias que impactaram a economia por longos períodos em 2020 e 2021.

O texto enumera quatro verbetes que se tornaram muito mais populares com a pandemia e que agora podem ter um novo significado na suposta volta à normalidade.

E-COMMERCE

O primeiro destaque é o e-commerce. O Sebrae acredita que o mercado digital não perca adeptos, mesmo com a liberação das atividades presenciais. A grande vantagem deste novo hábito do consumidor é que empreender não exige mais um espaço físico adequado, o que faz com que o custo de operação seja mais baixo, sem o aluguel e a manutenção. Outra vantagem é a área de atuação do mercado, que pode ser muito mais ampla que um endereço físico.

HOME OFFICE

O segundo verbete é o home office. Em 2022, a adaptação a esta modalidade vai permitir escalas mais flexíveis, com novas ferramentas tecnológicas pensadas para controle de estoque, caixa, vendas e faturamento, com possível melhora da produtividade em relação a este ano.

DROPSHIPPING

O terceiro verbete é o dropshipping. Neste tipo de negócio, o empreendedor é um intermediário entre o produto ou o serviço e o mercado. Uma espécie de revendedor, cuja vantagem é não precisar ter muito recurso para investimento.

O Sebrae alerta que para ter lucro, este tipo de modalidade, embora dispense a preocupação com estoque e produção, exige ainda mais dedicação para aumentar o volume de vendas.

CRIAÇÃO DE CONTEÚDO

O outro tema abordado pelo relatório é a criação de conteúdo. O Sebrae acredita que o marketing digital será fundamental em 2022. A qualidade do material oferecido nas redes sociais pode ser um diferencial para a conquista ou manutenção de clientes.

EMPREENDEDORISMO POR NECESSIDADE

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A consultora de Negócios do Sebrae/PR, Liciana Pedroso, lembra que 2022 pode ser um ano decisivo para muita gente que aderiu ao chamado empreendedorismo por necessidade.

“Muita gente está empreendendo agora ainda de olho numa recolocação no mercado formal de trabalho e isso pode ser arriscado. Para conduzir um negócio, é preciso estar 100% focado para resolver os problemas que surgem nele. O perigo é você não ser nem empresário e nem empregado”.

O grande número de empreendedores poderia se tornar uma força geradora de novos empregos para o País com capacitação adequada e políticas públicas protetoras, como o acesso ao crédito com juros favoráveis e a redução da carga tributária.

“Na verdade, eles precisam se perceber como empresários e terem os conhecimentos básicos para estar no mercado: conhecer suas reais habilidades, entenderem o segmento no qual estão atuando, observar o comportamento dos clientes, ficar de olho em oportunidades de parcerias com outros empreendedores”, enumera a consultora, lembrando que a mudança do ano por si só não vai mudar os aspectos mais importantes para sobreviver e se desenvolver em qualquer área de atuação. (L.F.M.)