Brasília - O governo federal decidiu adiar o Concurso Público Nacional Unificado, após chuvas deixarem dezenas de mortos no Rio Grande do Sul e temporais atingirem Santa Catarina nos últimos dias. As provas seriam realizadas no próximo domingo (5).

O anúncio oficial foi feito na tarde desta sexta (3), pela ministra de Gestão, Esther Dweck. A informação foi adiantada pela colunista do jornal “O Globo” Vera Magalhães e confirmada pela “Folha de S. Paulo”.

Segundo a ministra, a medida foi necessária para garantir a segurança de todos os envolvidos, sejam candidatos, sejam funcionários. Ainda não há nova data para a realização das provas, disse ela.

Dweck diz que as provas estão em local seguro e que o mais provável é que, quando o concurso for remarcado, sejam usados os mesmos testes.

Segundo a ministra, o custo do concurso era inferior ao que foi arrecadado nas inscrições, mas ainda não há previsão sobre quanto será necessário para reaplicar a prova. Ela afirma que parte das verbas previstas não será usada agora, como, por exemplo, o pagamento dos fiscais. O valor necessário sairá do orçamento da União, disse Dweck.

O governo viveu uma divisão sobre o tema devido ao risco jurídico de adiar o concurso e chegou a anunciar na noite de quinta-feira (2) que a prova estava mantida - com "todos os esforços para garantir, no Rio Grande do Sul, a participação dos candidatos".

Desde o início, porém, havia pressão de uma ala da Esplanada pelo adiamento. Como não existe um banco de provas disponível para o Concurso Unificado, que será realizado pela primeira vez, haveria risco de as provas aplicadas no estado terem grau de dificuldade diferente, abrindo brecha para judicialização.

A ministra afirmou que o governo tentou garantir a aplicação das provas ao máximo pelo compromisso com os cerca de 2 milhões de candidatos inscritos. A avaliação, disse, é de que a decisão foi "tomada no momento certo, no limite do que era possível".

"A gente ainda esperava que seria possível garantir a realização da prova até no Rio Grande do Sul, mesmo sabendo do cenário, porque ainda existia insegurança sobre como estaria no domingo (5) a situação. Hoje, de fato, diante do agravamento da situação, a gente viu que era inviável", disse.

"A gente tentou ao máximo garantir a prova porque a gente sabe que tem 2.050.000 pessoas que estavam fora do Rio Grande do Sul inscritas para fazer a prova. A gente tem um compromisso com todo mundo. Mas hoje realmente se tornou inviável."

Os editais do concurso não preveem reaplicação em nenhuma hipótese, mesmo em caso de desastres naturais. A ministra reconheceu a situação nesta sexta e disse que o documento "não contemplava o grau de ineditismo dessa questão".

Para garantir o adiamento, um acordo foi assinado no Palácio do Planalto entre União, AGU (Advocacia-Geral da União), DPU (Defensoria Pública da União) e Rio Grande do Sul, por meio da procuradoria do estado.

O governador do estado, Eduardo Leite (PSDB), pediu ao governo o adiamento da prova nos locais atingidos pelas fortes chuvas, que já deixaram mortos, cidades alagadas e rodovias destruídas. Parlamentares também fizeram o mesmo.

O concurso unificado, que é também chamado de "Enem dos concursos", recebeu 2,1 milhões de inscrições. A organização esperava aplicar as provas em 228 cidades, embora os inscritos sejam de 5.555 municípios.

Os candidatos pagaram R$ 60 para o bloco de nível médio e R$ 90 para os blocos de nível superior.

Segundo o Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos, havia duas possibilidades para devolução do valor pago pela taxa de inscrição: falta de energia elétrica que prejudique a visibilidade por ausência de luz natural e desastres naturais que comprometam a infraestrutura do local de realização das provas.

No Rio Grande do Sul, são 80.348 inscritos (4% do total), que seriam divididos em dez cidades que receberiam a prova: Bagé, Caxias do Sul, Farroupilha, Passo Fundo, Pelotas, Porto Alegre, Santa Cruz do Sul, Santa Maria, Santo ngelo e Uruguaiana.

A maior parte dos inscritos do estado está na capital gaúcha, com 38.292 candidatos.

Ivan Gitahy Neto, advogado e especialista em concursos públicos, afirma que o adiamento é uma decisão do governo que pode afetar outros candidatos, que já haviam comprado passagens para viajar para fazer a prova ou mesmo contratado hotel, mas, questões humanitárias devem se sobrepor.

Segundo ele, é normal haver frustração, mas é preciso não perder o foco. Para ele, o melhor seria fazer com que houvesse uma solução para as cidades do Sul, com adiamento no local, conforme a coordenação com órgãos da Defesa Civil. "Sempre a vida vem antes do concurso público", diz.

(Atualizada às 17h05)