O desvio do tráfego pesado do perímetro urbano e a criação de um novo bolsão para a instalação de empresas, consequências diretas da construção de uma nova via no entorno de Londrina, dominam as preocupações sobre a infraestrutura regional.

Imagem ilustrativa da imagem Decisão sobre Contorno Leste ficará nas mãos da articulação regional
| Foto: Roberto Custódio

O assunto está intimamente ligado a outra pauta que mobiliza os agentes políticos e econômicos, a nova concessão das rodovias, processo que deve marcar o setor também nos próximos anos.

E os políticos da região precisam agora se mobilizar para tornar viável a construção do Contorno Leste. Em palestra na 20ª edição do Encontros Folha, realizada esta semana no Centro de Eventos do Aurora Shopping, explorando o tema “Infraestrutura e Transporte no Norte do Paraná – Desafios e Oportunidades”, o secretário Sandro Alex deixou claro que a decisão de viabilizar a obras passa pela articulação política regional.

O Contorno Norte, sonho mais antigo dos líderes empresariais e das entidades de classe, já está mais encaminhado. A nova via pensada para separar o fluxo de caminhões que fazem longos deslocamentos do fluxo de tráfego doméstico está incluída como obra obrigatória no pacote de concessões que já foi iniciado pelo governo federal.

Estudos feitos em 2019 por uma empresa de tecnologia do governo federal, a Empresa de Planejamento e Logística (EPL), apontam que o Contorno Norte é o único projeto capaz de migrar um volume significativo de tráfego pesado da área urbana – 8 mil veículos, resultando em mais fluidez na travessia da Região Metropolitana de Londrina.

Os modelos da EPL apontam que outros trechos do futuro anel viário seriam dominados pelo tráfego doméstico, como é o caso do Contorno Leste. Com isso, o argumento técnico que prevalece, de acordo com o governo do Estado, é a inclusão do Contorno Norte no pacote de obras da futura concessionária. “Mas neste caso a prioridade é estabelecida pela circulação dos tráfegos nas rodovias. Um contorno envolve outras questões de tráfego da região”, explicou Alex.

Anunciado em agosto como parte das obras previstas no contrato de concessão do Lote 3, previsto para ser leiloado em 2024, o Contorno Leste teria 23 quilômetros de extensão, ligando a PR-445 à BR-369, no limite entre os municípios de Londrina e Ibiporã, abrindo caminho para potencializar a movimentação de cargas no aeroporto, instalado na mesma região.

No caso do Contorno Norte, a obra está prevista para o Lote 4, previsto para ser leiloado em 2025. Seriam 40 quilômetros de uma nova interligação, que partiria do trecho entre Rolândia e Cambé, passando próximo do distrito da Warta até o contorno de Ibiporã.

Na palestra, Sandro Alex, que foi auxiliado na explanação por Fernando Furiatti, diretor presidente do DER Paraná, lembrou que a inclusão de um segundo contorno no pacote de concessão poderia onerar o custo do quilômetro rodado no Lote 3 além do previsto.

Outra alternativa foi aventada pelo secretário. A inclusão do Contorno Leste na lista de obras do PAC no Paraná. “A palavra final é da região de Londrina. Se seus líderes entendem que há necessidade de ter um Contorno Leste, o governo do Estado vai apoiar. Mas precisamos que as autoridades daqui, prefeitos e deputados, expressem esta vontade com assinaturas em um documento, que o governador também vai assinar e encaminhar a Brasília”.

LEILÕES MAIS COMPETITIVOS

O Governo do Estado tem prometido muitos avanços em infraestrutura. Para o presidente da Faciap, Fernando Moraes, as melhorias são muito importantes para o desenvolvimento do interior do Estado. “Sofremos por muitos anos com a falta de infraestrutura e isso acabou desenvolvendo muito a Região Metropolitana de Curitiba; faltou muito para Londrina, principalmente na questão industrial. Os investimentos, não só aqui na região, mas também no Oeste e em todo o interior, ajudam a fortalecer o Paraná como um todo, sem deixar tudo ficar muito concentrado na região da capital”, defendeu.

Um ponto sensível para Moraes é a atração de mais interessados nos leilões das rodovias. “Não falo só dos governos estadual e federal, que têm que levantar novos dados de fluxo nas rodovias, por exemplo, mas de todas as entidades que precisam se unir para que tenhamos leilões mais competitivos”. Ele também mostrou preocupação com as obras do Contorno Leste, importante para o desenvolvimento econômico local.

CONVÍVIO DO TREM COM A BIKE

Sobre o assunto, a arquiteta e urbanista Danaê Fernandes, a demanda induzida gerada pelo Contorno Leste pode ser muito benéfica para o comércio da região. “Isso atrairia investimentos e possibilidades”, comenta. Ela ainda enxerga nas linhas férreas do Norte do Estado, que conectam áreas urbanas próximas uma da outra, a possibilidade de uma infraestrutura ciclável. “É uma conexão poderosa, na área de domínio do trem, onde cabe uma ciclovia. Foi o que Rolândia fez”, comenta.

O governo do Estado teve a mesma ideia com o programa de ciclomobilidade Paraná de Bike, coordenado pela Secretaria de Infraestrutura e Logística do Paraná e que promete investimento em infraestrutura cicloviária em parcerias com municípios e diversas entidades públicas para incentivar o uso do modal.

PRESENÇAS ILUSTRES

Antes dos debates, autoridades que acompanharam o evento também registraram no microfone tanto a importância de debater o tema quanto o marco na história da cidade que a efeméride do jornal significa. Fizeram parte deste grupo o prefeito Marcelo Belinati, os deputados estaduais Tercílio Turini e Tiago Amaral, o presidente da Codel, Alex Canziani, e Fabrício Bianchi, gerente da Regional Norte do Sebrae Paraná.

A realização do evento é do Grupo Folha de Londrina e Codel, com correalização do Sebrae, patrocínio de Integrada Cooperativa Agroindustrial e TCS (Tata Consultancy Service); e apoio de Frezarin Eventos e Unimed.

75 ANOS DA FOLHA

Na fala de abertura, o CEO do Grupo Folha de Londrina, Nicolás Mejía, lembrou que o evento – uma iniciativa que já acumula 9 anos de contribuições para o debate público - simboliza a preocupação da sociedade e do setor produtivo pelo tema inovação.

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“Não só tecnológica, inovação de pensamento, um movimento de evolução, de desenvolvimento da região. Precisamos discutir soluções que a população abrace e que sejam colocadas em prática”, afirmou o executivo, que aproveitou a ocasião para agradecer as mensagens de congratulações de empresas e instituições pelos 75 anos de fundação do jornal, completados na segunda-feira passada. Mejía fez questão de exaltar o trabalho dos dois líderes históricos do grupo, João Milanez e José Eduardo de Andrade Vieira, além de fazer menções ao valor dos colaboradores e dos assinantes.

‘Investimentos em infraestrutura são estratégicos para o desenvolvimento”

A atual situação das estradas no estado é um motivo de alerta para Fernando Moraes, presidente da FACIAP - Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Estado do Paraná.

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Um dos painelistas da 20ª edição do Encontros Folha, Moraes defende uma infraestrutura robusta e uma logística eficiente como pontos fundamentais para fortalecer os municípios, impulsionando setores-chave como a indústria, o turismo, o comércio, a economia e o desenvolvimento regional. “Do ponto de vista empresarial, a infraestrutura e logística é capaz de gerar empregos e renda, elevar o PIB, fortalecer as empresas e promover o crescimento econômico a longo prazo”, comenta.

Para o empresário, investimentos na infraestrutura e a consequente melhoria dela é essencial para atrair empresas.

“É a garantia de uma cidade mais engajada e uma região mais desenvolvida e prospera”, diz. Planos que se chocam com a realidade. “O momento atual é muito difícil. Vamos iniciar uma temporada de mais chuvas, da colheita e escoamento da safra, das férias de fim de ano e as rodovias não estão em condições de receber tráfego pesado, as estradas não estão boas. Precisam de manutenção urgente”, continua Moraes.

O tema interessa bastante a FACIAP que juntamente com o G7, grupo que reúne as sete principais entidades empresariais do Paraná, articula uma reunião com o DNIT até o início de dezembro para discutir a manutenção das estradas. “Estão acontecendo os leilões das concessões de pedágio e é muito importante que isso também aconteça rapidamente. O novo modelo do pedágio do Paraná é uma grande conquista, no entanto, antes da implantação plena das praças de pedágio, o governo federal precisa se responsabilizar pela manutenção urgente das rodovias”, afirma.

MOEGÃO, NOVA JANELA DE OPORTUNIDADES

Investimentos na malha ferroviária também seriam muito bem-vindos. “As ferrovias são importantes, ajudam muito a tirar o tráfego de caminhões das estradas”, comenta Moraes que na sua apresentação destacou ainda avanços no tema a partir do trabalho da Comissão de Infraestrutura e Logística, grupo de trabalho criado em 2017 com a participação de entidades do setor produtivo e deputados que representam Londrina e região. “Com o novo moegão no Porto de Paranaguá, o escoamento das cargas ferroviárias aumenta 63% e será possível descarregar 900 vagões por dia, sendo que a capacidade atual é de 550 vagões/dia. O modal ferroviário que hoje é de 14,9% passará a ser de 50%. A construção da Nova Ferroeste também deve aumentar a capacidade de escoamento da safra pelo porto e a reforma das ferrovias da Malha Sul vai ajudar a aliviar a pressão sobre as rodovias, reduzindo o congestionamento e melhorando a segurança”, revela Moraes.

Moegão é o aumentativo de moega. A moega ferroviária é um depósito de materiais que são moídos, triturados ou transformados em granel. Onde se pesa, mede, classifica e direciona a carga no terminal portuário.

Com área total de quase 600 mil metros quadrados, o Moegão terá capacidade para descarregar simultaneamente até 180 vagões, em três linhas independentes. Os granéis sólidos vindo pela ferrovia serão descarregados na nova estrutura e enviados aos 11 terminais interligados do Corredor Leste.

De acordo com texto publicado pela Agência Estadual de Notícias, a estrutura vai contar com três linhas diferentes, com capacidade de movimentar cerca de duas mil toneladas por hora cada uma. Para isso, será construída uma nova pêra ferroviária de acesso, um pátio em formato circular que possibilita o transporte da carga sem a necessidade de desmembramento do trem.

A carga que sai dos vagões cai em um funil no subsolo e segue através de uma correia transportadora até uma torre de elevadores de canecas, de onde é levada às linhas de correias aéreas. Os grãos serão direcionados pelas correias transportadoras dos eixos Norte e Sul para os terminais, e de lá serão enviados para carregar os navios no Corredor Leste de Exportação, que contará com um píer em T, O que dará mais agilidade ao carregamento.

ENCONTRO COM O VICE-PRESIDENTE

Essa semana, o presidente da FACIAP participou da Assembléia Extraordinária da Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB) e o tema do encontro, que contou com a presença do vice-presidente Geraldo Alckmin, foi justamente a infraestrutura e as concessões de rodovias. “Um questionamento grande foi sobre o segundo lote que teve apenas um concorrente. Isso nos preocupou muito e foi a ocasião para perguntar se o Governo Federal poderia fazer algum investimento em obras para que o lote fique mais barato, para que tenhamos mais de um concorrente participando. A resposta dele foi que precisamos ter lotes menores porque os grandes dificultam a entrada de mais interessados. O mundo ficou mais pobre com a questão da Covid, os investimentos estão mais difíceis, seria uma saída”, explica.

Especialista defende a intermodalidade para reduzir custos

Os custos diretos e indiretos do transporte deram o tom da participação da arquiteta Danaê Fernandes como painelista no EncontrosFolha – Conteúdo com Relevância.

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Sócia fundadora da URBdata e secretária municipal de Segurança Pública e Trânsito de Cambé, Fernandes demonstra com números o impacto do transporte rodoviário, o mais usado no Brasil e o menos interessante, não só para os negócios, mas também para a vida humana.

“Encontros como esse são a nossa chance, como líderes, de um exercício ao colocar uma outra lente e pensar diferente”, comenta. “Não precisamos ter o veículo individual motorizado como única opção. Quando pensamos no que temos hoje e fazemos uma projeção do que será estamos desconsiderando outras possibilidades”, completa.

De acordo com o Observatório Nacional de Infraestrutura e Logística, o custo médio da tonelada de carga por quilômetro no modal rodoviário só perde para o aéreo. “É um custo direto, aquele que a empresa sente. Será que não seria mais interessante um transporte multimodal”, questiona a especialista. “Se continuarmos pensando só no modo rodoviário talvez nunca chegaremos a uma solução. Não existe jeito mais eficiente de transporte que o coletivo e pelos trilhos. No Brasil inteiro temos 16% de toda a carga transportada por trens. Uma intermodalidade seria mais barata e rápida”, defende.

A urbanista também trouxe para o debate os custos indiretos do transporte rodoviário, como o total de R$ 1,4 bilhão gastos em sinistros de trânsitos nas rodovias paranaenses. As rodovias paranaenses também são as que mais matam ciclistas e pedestres em todo o Brasil. “Isso é muito sério. Teoricamente, os pedestres e ciclistas deveriam ser os agentes de trânsito mais protegidos e aqui temos um problema de segurança crônico no Estado”, afirma a arquiteta que defende mais investimentos e melhorias nas ferrovias pela segurança de vidas humanas. “No Paraná, temos quinze acidentes com morte a cada dez quilômetros enquanto nas ferrovias do Estado, são onze acidentes por cada milhão de trem por quilômetro”, revela.

Recentemente, o tema da mobilidade urbana tem trazido para o debate novas modalidades de transporte. Drones, veículos autônomos e carros voadores (VTOL e eVTOL) devem ser uma realidade no Brasil. “São Paulo já tem um canal de drone que apanha a encomenda de um lado do viaduto e leva para outro setor da Cidade, para que esse produto possa ser redistribuído por bicicleta. Hoje, temos aqui um serviço de ponta a ponta com drone. É um canal fixo de distribuição e o mais interessante é que a dispersão desses produtos pode ser feita por veículos muito mais sustentáveis, como as bicicletas”, diz a urbanista que não considera o eVTOL como uma solução para a mobilidade urbana já que ele é capaz de transportar apenas quatro pessoas. “Sabemos que o modo individual de transporte para uma cidade grande é inviável. Precisamos de modos coletivos”, pontua.

Em entrevista, Fernandes revela que Cambé está passando por uma transformação do transporte coletivo. No comando da pasta desde julho, a arquiteta já conseguiu implantar na cidade a figura do agente de trânsito. “Não tem como pensarmos em sistemas sem planejamento. Acredito que o fato de terem convidado uma arquiteta para esta função simboliza o entendimento da complexidade dos sistemas de transporte e de planejamento urbano”, comenta. Outra novidade para o município é a construção da primeira ciclovia, em fase de licitação. “Meu desejo é fazer em Cambé um sistema de ciclofaixas, que não mexe exatamente com infraestrutura urbana, mas sim com a mudança de uso da pista de rolamento”, explica.

Economista defende Contorno Leste como oportunidade de integração de modais

O economista Marcos Rambalducci, professor da UTFPR, consultor da ACIL e colunista da Folha, se apega a um detalhe importante para escolher seu lado na polêmica sobre qual seria o melhor contorno viário para a região.

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Para ele, um defensor incansável da necessidade de Londrina ter mais indústrias e não ser tão dependente do setor de serviços, o Contorno Leste tem um diferencial que poderia atrair investimentos industriais para o Município. Ele foi o mediador do painel que reuniu todos os participantes do EF 20 e fez uma breve intervenção sobre este assunto.

Além da proximidade do traçado da futura via de interligação com o aeroporto, há também um outro ativo, que é chance de conexão com o modal ferroviário, já que a linha férrea corta a região leste em diagonal, o que abre possibilidade da abertura de um pequeno ramal para as empresas que se instalarem no contorno tenham acesso direto ao trem, um transporte de baixo custo que poderia reduzir os custos para a exportação de produtos. “Acredito que o argumento técnico do tráfego é só uma fotografia. Precisamos ver o filme completo para tomar a melhor decisão.”

Rambalduci lembrou um dos aspectos mais importantes do setor industrial para a economia regional que é a geração de empregos formais. Como comparação, o economista informou que consta no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, o Caged, que de cada quatro empregos com carteira assinada no Paraná, um é da indústria. Em Londrina, este índice é quase a metade, e alcança apenas 13%.

Rambalducci aproveitou a ocasião também para lembrar outra distorção antiga que é preciso ser combatida, a debilidade do modal ferroviário na matriz de transporte de mercadoria. Ele comparou o Brasil com outros quatro países continentais e demonstrou o quanto estamos distantes de um patamar razoável no uso do trem e como isso pode ser um diferencial para atrair indústrias de competição global. “Na China, 37% da carga é transportada por linha férrea. Nos Estados Unidos 43%, no Canadá 46% e na Rússia 81%”. Embora o índice brasileiro alcance pouco mais de 20% de participação, Rambalducci lembrou que a demanda é ainda mais baixa na indústria: apenas 8% das empresas deste setor utilizam trilhos para transportar sua produção.